terça-feira, 3 de agosto de 2010

Por Favor, Doutor Luiz Augusto!

Há não muito tempo, não sei se os amigos se recordam, houve um caso bastante interessante, parece-me que no Rio de Janeiro, de um juiz de direito que processou o porteiro de seu prédio porque este não lhe chamava de doutor ou de senhor, mas apenas diretamente pelo primeiro nome. O juiz a quem coube julgar a causa em primeira instância, ao menos na minha modesta opinião, foi perfeito ao decidir que a ação era improcedente na medida em que nenhuma lei obriga ninguém, em nenhuma circunstância, a usar tais termos para se dirigir a quem quer que seja, e, como todos os que temos um mínimo de conhecimento jurídico estamos cansados de saber, já que está escancarado em nossa constituição, neste país ninguém é obrigado a nada senão em virtude de lei. Mais tarde, segundo li, em grau de recurso, o tribunal, sabe-se lá baseado em que, já que na lei decerto não foi, estranhamente acabou por dar ganho de causa ao magistrado...
Relembrando esse caso e refletindo a respeito, tive vontade de escrever o presente post para compartilhar com os amigos uma opinião que sempre tive... Sou totalmente contra o uso dessas formas de tratamento! Por que, afinal, essa quase que obrigatoriedade - no caso acima, como vimos, obrigatoriedade mesmo - de se usar esses termos como senhor, doutor, excelência etc para se dirigir a quem quer que seja? Será que ninguém percebe que isso é um claro resquício de tempos medievais, ou mesmo da antigüidade, quando as pessoas eram separadas em castas ou classes, quando havia escravos, senhores, pessoas que eram donas umas das outras, nobres, servos, vassalos e tudo mais? Não vêem que isso é fruto de uma mentalidade claramente elitista e excludente? Não vêem que é praticamente uma forma dissimulada de aparthaid? Por que aquele que teve a oportunidade de cursar uma determinada faculdade deve ser chamado de doutor? Será que ele é mais do que alguém? "Ah, mas é uma questão de respeito", dirão alguns...! Mas será que quem teve oportunidade de estudo merece mais respeito do que quem não? Quem exerce determinado cargo, o mesmo tanto? Ora, acredito, e que me corrija quem discordar, que todos somos dignos do mesmo grau de respeito, seja qual for o nosso grau de instrução, seja qual for o cargo que ocupamos, seja qual for o nosso nível social, cultural ou econômico! Será que estou errado? Se não estou, por que então esse tratamento diferenciado, essa quase que literal subserviência através das palavras?
E a coisa de se usar o senhor ou senhora por causa da idade? Será que faz sentido? É cristalinamente óbvio que às pessoas mais velhas deve-se respeito! Mas não mais do que às mais jovens, ora bolas!!! Ou será que estou falando besteira? O mesmo respeito que se deve a um idoso é devido a um adulto jovem, a um adolescente ou a uma criança, como não? Todos, insisto, piamente acredito, somos dignos do mesmo respeito! Por que então essa diferenciação?
E já reparam os amigos a que nível chega essa mentalidade? Se o sujeito é doutor - e, aliás, normalmente, diga-se de passagem, no Brasil se está de terno já o é -, ou se é, ao menos, um senhor, o tratamento é um... Se não, se é um reles "joão ninguém", a coisa muda totalmente de figura... Já não é mais devido o mesmo respeito, já não é dispensada a mesma consideração... E isso, meus amigos, facilmente se observa, acontece praticamente em todos os ambientes!
Bom... Quanto aos cargos em que se costuma usar o "excelência", aí a coisa já beira a piada, o ridículo, a pantomima... Parece que somos simples mortais que nos dirigimos a divindades, de novo, e aqui ainda muito mais, como se essas pessoas fossem mais dignas de respeito do que os outros...!
É... Há coisas em que não se pára muito para pensar... Tanto se fala em construir-se uma sociedade mais justa, mais humana, mais fraterna, não é mesmo? Pois eu digo que, enquanto houver nas cabeças esse tipo de mentalidade elitista, diferenciadora, excludente, discriminatória até, jamais sequer chegaremos perto desse tipo de ideal...!
E, voltando ao caso do juiz e do porteiro... Como pode alguém sentir-se ofendido por ser chamado por seu nome? Não é para isso, afinal, que servem os nomes? Ou será que ele acha o seu nome tão feio assim?
Eu sou bacharel em direito e, antes de me tornar funcionário público, já fui advogado. Que tal se, quando alguém me chamar de Gugu, eu disser... "Por favor! Gugu não! Doutor Luiz Augusto! Ou eu te processo!" Brincadeira, né?

Gugu Keller

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