quinta-feira, 15 de abril de 2010

Minhas Músicas - "Fogo-fátuo"

Pelos idos de 1982, 1983, quando eu tinha de 17 para 18 anos, muito antes da onda dos góticos, adorávamos alguns amigos e eu entrar no cemitério à noite para cheirar lança-perfume ou o que fosse. Um deles, um pouco medroso, sempre ficava perguntando... "O que vamos dizer se nos pegam aqui?" E eu respondia... "A gente diz que está tentando ver um fogo-fátuo!" Tempos mais tarde, relembrando com eles daqueles momentos, descobri que ninguém sabia do que eu estava falando... "Que porra de história era aquela tua de fogo fato?" E eu... "Que fogo fato, o quê! Fogo-fátuo!" Contudo, mesmo depois de eu ter explicado então do que se trata, fiquei com a sensação de que eles ainda ficaram na dúvida se a coisa não era uma invenção minha, pois insistiam, para minha surpresa, que jamais haviam ouvido falar a respeito... Foi assim que, meio que para mostrar a eles que isso existe, fiquei com a idéia na cabeça de compor uma música com esse título, "Fogo-fátuo"! Pois bem... Mais algum tempo se passou e, possivelmente influenciado pelo verso "minha vida é um flash", da famosíssima canção "Eva", da banda Rádio Táxi, tive o impulso de cantar que "a vida é só fogo-fátuo", e, a partir daí, a idéia se desenvolveu, resultando neste blues que mistura sensualidade e depressão e que me deixou bastante satisfeito...

Para quem não sabe, fogo-fátuo é uma luz azulada causada pela inflamação espontânea do gás metano resultante da decomposição de corpos, comuns, por isso mesmo, em ambientes como cemitérios, brejos ou pântanos. Folcloricamente é tido como um evento sobrenatural (espiritual ou fantasmagórico) e, mundo afora, recebe alguns outros nomes curiosos, como, por exemplo, em certas regiões aqui do Brasil, o popular "boitatá". Em tempo, eu nunca cheguei a ver. Gostaria muito...

FOGO-FÁTUO

Mais um lugar
Outras luzes, mais um endereço
Mais uma sala de estar
Mais um dia e eu não esqueço
Não, não se vá
Eu te quero de todos os jeitos
De todos os jeitos te amar
Por você já nem sou mais eu mesmo

O mundo é um deserto florido
Onde a vida é só fogo-fátuo
E o amor é a turbina
Que gira o átomo
A noite é um campo minado
Onde eu ando de olhos fechados
E a bomba que explode
É um beijo molhado

Mais uma mesa de bar
Outro copo e eu quase nem sinto
Meu corpo há muito já está
Perdido no teu labirinto
Vem, vem aqui
Eu te quero por fora e por dentro
Por cima, por baixo, do avesso
Eu quero todos os movimentos

O mundo é um pedaço de acaso
Onde a vida é uma folha ao vento
E o amor é o mais belo
Dos sentimentos
A noite é um caminho sem volta
Que eu sigo do nada ao nada
Nossas bocas e mãos
Nossa roupa suada

Gugu Keller

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