sábado, 30 de janeiro de 2010

Minhas Músicas - "Testemunha"

TESTEMUNHA

O meu corpo é apenas uma testemunha
Da minha tamanha ausência
Que perambula e procura por ruas escuras por mim
Minha vida é somente um presente descrente
Em que pende uma alma perdida
Enquanto grita e se agita aflita a fim de um fim

O meu canto é um pranto, um gemido doído
Um ruído que ecoa errante
E que à tôa destoa distante na escuridão
Minha voz, um revólver sem bala
Não diz e nem fala o que tanto queria
Mas se cala na sala vazia do meu coração

Sem sentido é seguir perseguindo um sentido
E ter sido um ver vir que viver vai-se em vão

A cidade, a saudade, a verdade, a vaidade
Ao que invade-me, leve me leva
E a lava que lava alivia o meu vício vulcão
Os teus lábios nos meus, meus afagos, os teus
Nosso fogo, fulgor, nossa fuga
Nossas línguas, lambidas, saliva, cilada e paixão

Sem sentido é seguir no sentido contrário
Contrassenso antihorário, sudário no chão
Eu na contramão, a minha mão contra o meu peito
Paradoxo perfeito, contradição

Quando nua a lua flutua no céu
Sobre a tua insana insônia
Uma sanha me acena e eu sonho a cena final
Mas se surge e se insurge a em ardor dor que urge
E que alarde arde tarde p'ra tudo
Cá me acudo acuado, desnudo e, ao teu lado, mortal

Gugu Keller

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Antidepressivos

Sei que soará como advocacia em causa própria, mas muitas vezes tendo a pensar que os que tomamos antidepressivos o fazemos devido a uma incômoda e indesejável perfeição em nossa saúde mental que nos leva a, ao contrário da maioria, não conseguir suportar sem tal ajuda a tamanha quantidade de hipocrisias e absurdos com que a realidade cotidianamente nos estapeia a cara!

Gugu Keller

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

The Catcher

Morreu hoje nos Estados Unidos, aos 91 anos de idade, o escritor Jerome David Salinger, mais conhecido como J. D. Salinger, cujo trabalho eu muito admiro. Entre outras obras, Salinger é o autor de "The Catcher in the Rye" ("O Apanhador no Campo de Centeio"), para mim um dos dez livros mais importantes do século XX e cuja leitura por demais influenciou em minha formação em meu modo de ver o mundo. Modestamente, presto então a ele esta pequena homenagem neste meu espaço, aplaudindo-o através destas breves palavras por sua brilhante contribuição para a literatura universal.

Gugu Keller

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Catalepsia

Ah...
Se, ao menos por algumas horas, eu pudesse dormir para sempre...
E respirar...
Respirar...
Fundo...
... Fim.

Gugu Keller

domingo, 24 de janeiro de 2010

Minhas Músicas - "Depressão"

Compus esta melancólica balada após ler o livro "O Demônio do Meio-dia - Uma Anatomia da Depressão" de Andrew Solomon. Eu sinceramente gostaria apenas que as não poucas pessoas que todo o tempo falam tantas besteiras sobre esta complexa e vasta questão, ao menos o procurassem ler... Assim, se esta minha pequena e modesta obra ao menos servir para esse, a meu ver, importante despertar, já terá sido para mim um enorme sucesso...!

DEPRESSÃO

O que é que você faz
Quando tudo tanto faz
Quando nada satisfaz
Quando tudo pede o fim?
O que é que você faz quando o tempo já não tem pressa?
O que é que você faz
Se o que era não é mais
O mundo diz que não
E a vida vai ao chão?
O que é que você faz quando o fim finalmente começa?

Só lhe resta acreditar no que é impossível
Só lhe resta esperar o que decerto não vem
Só lhe resta caminhar em círculos
Girar em torno do seu próprio corpo
Ou, quem sabe, tropeçar no caminho de alguém

O que é que você vê
Quando já não há porquê
Quando nada pode ser
Quando tudo quer parar?
O que é que você vê se as janelas estão todas fechadas?
O que é que você diz
Se está tudo por um triz
Quando já não há talvez
E a vida vai de vez?
O que é que você diz quando as portas eis todas trancadas?

Só lhe resta acreditar no que você mais duvida
Só lhe resta duvidar dessa vida em você
Só lhe resta procurar estrelas
Enquanto o vento vai levando as nuvens
E pouco importa se o sol amanhã não nascer

O que é que você é
Quando já não dá mais pé
Quando foi-se toda a fé
E da faca o fio é frio?
O que é que você é se a ferida já não cicatriza?
O que é que você faz
Quando o porto não tem cais
Quando a dose já não traz
E o túnel não tem fim
O que é que você faz se cortar-se já não catalisa?

Só lhe resta apostar no que está já perdido
Só lhe resta inventar uma loucura qualquer
Só lhe resta não abrir os olhos
Ou sair para beber a chuva
E esperar que tudo seja o que o destino quiser

Depressão
CVV? Alô, alô!
Drogadição, descontrole e dor

Gugu Keller

Futuro do Pretérito

Outro dia estávamos alguns colegas do trabalho e eu, homens e mulheres, bebendo num bar depois do expediente, quando, a certa altura, nem sei como saiu o assunto, alguém resolveu perguntar a todos quem dali iria a um clube de swing... As mulheres todas disseram que não. Entre os homens a resposta variou. De todo modo, a situação deu-me a oportunidade para comentar com eles, e agora também aqui com os amigos eu o comento, sobre algo que sempre pensei a respeito desse tipo de pergunta... É que não vejo sentido que uma pergunta assim seja feita nesse tempo verbal, o futuro do pretérito, o, como diziam os mais antigos, condicional...! Porque, se pararmos para pensar, a resposta aí será sempre "depende"! Querem ver? Se me perguntarem se eu mataria alguém... Depende! É claro que eu nunca pensei em matar uma pessoa, mas numa situação em que fosse matar ou morrer, eu provavelmente mataria, como qualquer um mataria, não é verdade? Ou se me perguntassem se eu roubaria... Depende! Se eu estiver morrendo de fome e não tiver outra alternativa, creio que sim, como não? Entendem o que quero dizer? Vai ser sempre "depende"! Vamos à pergunta daquela noite... Eu iria a um clube de swing? Ora, depende! Se eu o desejasse e se tivesse uma parceira que igualmente o desejasse, ou seja, se fosse um desejo mútuo a ser levado a cabo de comum acordo, sim, eu iria, por que não? Sempre será "depende"! E é curioso que esse tipo de pergunta é muito comum em entrevistas jornalísticas... Você iria? Como você reagiria? Você tomaria tal atitude? Você diria? Você faria? Depende! Depende, depende, depende! Por isso, quanto a mim, deixo-o claro... Prefiro que me perguntem se faço ou se fiz! Se me perguntarem, seja sobre o que for, se eu "faria", no futuro do pretérito, a resposta será sempre "depende"! O que acham os amigos?

Gugu Keller

sábado, 23 de janeiro de 2010

Dor no Corpo

Outra coisa que é extremamente comum ouvirmos as pessoas falarem e que tenho dificuldade em entender é a "dor no corpo"! Já pensaram nisso, amigos? Fala-se em sintomas da gripe e lá está a dor no corpo! Fala-se em sintomas da dengue e lá vem dor no corpo! Sintomas do stress? Entre outros, dor no corpo! Então eu pergunto... Será que alguma dor pode ser em algum lugar que não o corpo? Bem... Talvez algum kardecista pudesse falar em "dor no espírito"...! Será que é essa a explicação? Mas o pior não é isso... No caso da dor de cabeça, ela costuma ser sistematicamente diferenciada! É só a gente dizer que está com dor, e lá vem a pergunta... "Dor de cabeça ou dor no corpo?" Ou seja, então a cabeça não faz parte do corpo??? Estranho, muito estranho... Eu, ao menos pelo que me lembro, aprendi na escola que o corpo humano se compõe de cabeça, tronco e membros! Será que mudou alguma coisa? Talvez a cabeça tenha passado a ser apenas um acessório... Vai saber...

Gugu Keller

domingo, 17 de janeiro de 2010

Sintomatologia...

SINTOMATOLOGIA DO PARADOXO HUMANO

O cenário é falso
O salário é falto
O sudário é falso

O dinheiro é falso
Pro doleiro é fácil
Desespero é fato

O esquema é falho
O sistema é frágil
O poema é vago

O sistema bancário
O sistema binário
Passos no cadafalso

Petrolina na cheia
Cajuína pra ceia
Cocaína na veia

Monoblocos e canos
Agrotóxico urbano
Paradoxo humano

Sintomatologia
Sem tomar todo dia
Nada mais me sacia

O cenário é falso
O cinismo é fácil
O sorriso é falso

O sistema viário
Tema do seminário
O poema diário

O senado e o santo
A mentira e o manto
Cegos no santuário

Sintomatologia
Outro deus, outro dia
Fecha os olhos, confia

Passos no cadafalso
Falso noticiário
Passos no calendário

Gugu Keller

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Será que sou um chato?

Às vezes, meio, confesso, por uma certa dose de sarcasmo, mas também, igualmente admito, um pouco por diversão, gosto de questionar através da ironia algumas coisas que as pessoas, por um condicionamento muitas vezes coletivo, falam sem perceber que a rigor não têm sentido. Ou, pior, como no caso que aqui vai, que é até comum, têm exatamente, sem que elas o percebam, o sentido inverso do que na verdade querem dizer...
Eu ia entrando num elevador, quando, pelo saguão de entrada do edifício, vinha, nervoso e apressado, um sujeito meio afeminado. Vendo-me entrar, ele acelerou o passo e, vindo, pôs-se a dizer em voz alta...
- Sobe! Sobe! Sobe!
Eu obviamente ouvi mas continuei na minha. Entrei no elevador e apertei o botão do andar aonde ia. A porta de dentro já ia se fechando quando o tipo, tendo decerto dado uma corridinha, alcançou a de fora e a abriu, impedindo que o elevador subisse. Ele entrou, apertou o botão do seu andar e, suspirando enquanto me olhava feio, perguntou-me com indignação...
- O senhor não ouviu que eu ia subir? Custava esperar um instante?
Respondi-lhe...
- Eu ouvi o senhor gritar "sobe!"! Não foi isso?
- Pois então... Custava esperar?
- Se o senhor tivesse gritado "espera!", eu teria esperado... Como o senhor gritou "sobe!", eu ia obedecer e subir...!
Ele me fuzilou com o olhar de um jeito que não sou capaz de descrever. Depois, parando o elevador no seu andar, saiu pisando firme e sem olhar para trás. Quando a porta se fechou, deu-me vontade de rir...
Mas alguém vai dizer que estou errado? Será que fui "sacana"? Ou será que sou mesmo é um chato?

Gugu Keller

Modos de Expressão

É curioso como as diferentes faixas etárias e camadas sociais têm diferentes maneiras de se expressar dentro do mesmo idioma...
Hoje, em meu horário de almoço, eu estava diante de uma banca de jornais perto do tribunal quando parei para olhar algumas manchetes de primeira página sobre os acontecimentos no Haiti, todas com várias fotos terríveis de cadáveres, destroços e pessoas desesperadas. Dali a pouco, pára um sujeito ao meu lado, aparentando uns vinte e poucos anos, meio mulato, boné na cabeça e vestindo umas roupas bem largas. Tendo também dado uma olhada naquilo, ele se vira para mim e diz...
- É, mano... Esse bagulho aí foi embaçado, hein?
Eu acabei não dizendo nada. Meio surpreso, apenas concordei com a cabeça. Depois fiquei pensando que devia ter dito...
- Pode crer, véio!
Temos que sempre procurar nos adequar, não é mesmo?

Gugu Keller

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Haiti

Pois é... Quanto horror, quanta dor, quanta tristeza... Creio que nem há muito o que dizer... Mas é que ainda fico pensando, sabem? Os amigos chegaram a ler o meu "post" de alguns dias atrás intitulado "Três Segundos"? Nele eu fiz uma reflexão acerca do horripilante fato, não sei se todos têm conhecimento, de que no mundo morre uma pessoa a cada três segundos vítima da fome. Sim, isso mesmo! A cada três segundos, uma vítima fatal da inanição! E, fazendo as contas, referi-me lá ao fato de que isso significa 28.800 óbitos diários, e que, quando este novo ano tiver chegado ao final, mais de dez milhões de pessoas terão perdido a vida neste planeta para a desnutrição...!
Aí, ainda que com um certo receito de que isso soe inoportuno, faço o seguinte raciocínio...
As primeiras estimativas dão conta de que cerca de cem mil pessoas pereceram no terremoto de ante-ontem... É claro que não é um número preciso, não haveria como o ser, mas tomemo-lo apenas como base... E penso que os amigos até já imaginam aonde quero chegar, não? É, a conta é simples! Se 28.800 morrem de fome por dia e cem mil foram as vítimas do terremoto, bastam apenas quatro dias para que aquelas superem estas! Não é isso? Sim, são números irrefutáveis!
Então, não dá para a gente não se perguntar... Por que será que um fato como esse terrível terremoto causa a mobilização e o impacto que estamos vendo, ao passo que a fome, a miséria, que causam mais do que isso a cada quatro dias, ou sete vezes e meia por mês, ou noventa por ano, são coisas que simplesmente passam ao largo das consciências em geral? É claro que o Haiti merece toda a nossa solidariedade, toda a ajuda possível! Mas e os tantos outros Haitis, os Haitis que sacodem e desabam ininterruptamente nas mesmas proporções mundo afora a cada quatro dias? Será que também não a merecem? Não serão estas tragédias de iguais proporções, fatos jornalísticos da mesma magnitude? Hum?
E uma última pergunta que, quase pedindo-lhes desculpas, meus amigos, tenho que fazer... Mesmo com todo o horror que estamos vendo nas telas de nossas tvs e computadores vindos das já tantas reportagens sobre esse horrível episódio, o que, afinal, pensando-se friamente, é mais triste? Cem mil pessoas mortas em razão de um terremoto, ou seja, de uma catástrofe natural, ou o mesmo número, o tempo todo a cada quatro dias, vítimas da fome, da pobreza, da miséria, da indigência, coisas que, como todos estamos cansados de saber, decorrem única e exclusivamente da insaciável ganância humana, da hipocrisia generalizada entre as nações e da total e completa indiferença do ser humano para com o seu próximo? O que é mais triste? Hein? O que?
Pensem com calma sobre isso, meus amigos! Como diz a música de Caetano Veloso, pensem e rezem pelo Haiti! Mas não se esqueçam do quanto ele também é aqui!
E tampouco se esqueçam, amigos, e quem o diz agora sou eu, que, neste mundo, o daqui, a cada quatro dias, há sempre mais um novo, igual ao de ante-ontem, Haiti! Cadáveres, cadáveres e mais cadáveres!

Gugu Keller

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Omelete

Uma ex-colega minha de trabalho (oi, Carla!), segundo depois ela me explicou, estava habituada a que sua mãe preparasse omeletes sempre com algum recheio, fosse presunto e queijo, fosse frango, fosse o que fosse... Pois bem... Certa vez, fomos almoçar num restaurante de comida "por quilo" perto do tribunal e, entre os pratos, havia omelete. Interessada, perguntou ela então ao sujeito que trabalhava ali e que pesava os pratos...
- Moço, por favor, do quê que é esse omelete?
Com um certo ar de indignação, ele olhou bem para a cara dela, depois para a minha, e, seco, nos respondeu...
- De ovo!

Gugu Keller

Besteiras de Balcão

Amigos...

A quantidade de besteiras que eu quase que diariamente ouço ao atender aos advogados e estagiários de direito no tribunal em que trabalho é uma coisa tão absurda, que resolvi que, de hoje em diante, vou postar algumas aqui apenas para que vocês tenham uma idéia... Ontem, por exemplo, uma estagiária que lá apareceu durante a tarde estava indignada porque, segundo disse, as cópias que ela havia solicitado ao setor de reprografia estavam simplesmente "inelegíveis"! Sim, isso mesmo! "Inelegíveis"! Enquanto, nervosa, fazia uma nova solicitação, repetiu-me a palavra umas quatro ou cinco vezes...! Bem... Ao menos, pensei, no dia em que se tornar uma advogada, ela provavelmente terá um ótimo tino para atuar em questões referentes a direito eleitoral, não acham?

Gugu Keller

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Big Brother & George Orwell

Serei eu um sujeito arrogante? Ou mesmo, quem sabe, um chato? É que hoje, dia em que estréia na rede Globo mais uma edição do Big Brother Brasil, sinto renovada a minha enorme dificuldade em entender o sucesso desses tais "reality shows"...! Mas tudo bem... Além do inequívoco fato de que gosto não se discute, creio que, hoje mesmo, no início da tarde, eu até consegui uma pista do porquê de tal fenômeno... É que, no meu horário de almoço, havia um grupo de conhecidos, cinco pessoas ao todo, comentando entusiasmadíssimos a respeito da volta do BBB, já o de número 10, especulando acerca das prováveis novidades, bem como relembrando personagens de outras edições e tal. Aproximei-me e fiquei ouvindo. A certa altura, de tanto ouvir falar em "big brother", ocorreu-me interrompê-los e lhes perguntar, já que sou um fã incondicional da obra de George Orwell, se algum deles sabia o motivo de o programa ter esse nome, "Big Brother"... Horrorizado, tive que, conforme imaginei, nenhum deles o sabia. Quatro ao menos já admitiram de cara que nem sequer faziam idéia. Mas pior foi o outro, que chutou uma besteira que nem tem tamanho...! Ou seja, a única coisa boa que, na minha modesta opinião, tem esse programa, que é remeter ao maravilhoso "1984", era totalmente ignorada por todos! E aí, fiquei pensando... "Nossa! Como podem ignorar uma obra de tamanho vulto, de tamanha importância?" E concluí... "Bom... Acho que isso meio que já explica eles gostarem tanto desse tipo de coisa...!" Terá sido arrogância de minha parte pensar isso? Será que sou um chato, um metido?

De todo modo, para quem não sabe, aqui vai...
"1984", do escritor inglês de origem indiana George Orwell (1903-1950), é, para mim, sem sombra de dúvida, um dos cinco livros mais importantes do século XX! Simplesmente enlouqueceu-me quando o li, tanto que já o reli duas vezes! Escrito nos anos quarenta, ele narra a visão de uma sociedade extremamente totalitária que, decerto influenciado pelo recente horror nazista de então, o autor vislumbrava para o futuro. 1984, o título, é justamente o ano em que a história se passa. Pois bem... Entre inúmeras idéias tão geniais quanto sombrias, uma das principais características desse mundo então futurista imaginário é justamente o fato de que as pessoas são observadas o tempo todo pelas chamadas "teletelas", aparelhos que estão em toda parte, inclusive dentro de todas as residências, que não podem nunca ser desligados. Assim, ao mesmo tempo em que assistem a uma programação que sistematicamente divulga os princípios do regime, todos os cidadãos são diuturnamente vigiados em todas as suas falas e atitudes, e punidos com o extermínio caso motivem qualquer suspeita de subversão ou insubordinação, por mínima que seja. E, quando as "teletelas" não estão exibindo nenhuma programação, elas mostram, severa e imóvel, a imagem do grande líder da nação, o "Grande Irmão" (Big Brother), que está, assim, ininterruptamente, a vigiar todos, pronto a punir com o extermínio qualquer um que ouse contestar a sua total autoridade.
E um detalhe extremamente interessante e inquietante é que o texto não deixa claro se esse tal Grande Irmão realmente existe ou não... Talvez ele seja apenas uma figura criada para simbolizar o poder... Mas preciso me conter! Se eu começar a escrever aqui sobre essa obra que tanto admiro, corro o risco de não parar mais...

Quando, se não me engano, há coisa de uns quinze ou vinte anos, não me lembro em que cidade da Inglaterra, pela primeira vez se utilizou o expediente das câmeras nas ruas para ajudar no combate ao crime, houve muitas vozes que se ergueram para dizer que era a previsão de Orwell que estava se confimando...! E hoje isso é tão comum, não é mesmo?

Por isso, amigos, - tanto os que gostam de assistir ao "Big Brother" quanto os que não - espero apenas que a existência do programa sirva como mote para que todos, ao menos quem ainda não o fez, procurem e leiam "1984", de George Orwell! É uma leitura fascinante, extremamente atual e enriquecedora! Eu sinceramente recomendo!

Gugu Keller

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

País Laico...?

Zapeando outro dia desses, peguei uma discussão num programa qualquer acerca da idéia de se descriminalizar o aborto. Fiquei assistindo um pouco. Não demorou e já entrou uma reportagem mostrando que a igreja é contra. Já repararam como sempre é assim? Discute-se a legalização do aborto e já se diz que a igreja é contra, questiona-se a descriminalização da eutanásia e já vem que a igreja é contra, aventa-se a liberação das drogas mas a igreja é contra...! Aí, pergunto... Mas que diabo? Não somos afinal um país laico? Não é o que diz a nossa constituição? Então, de que afinal interessa a opinião da igreja nesses temas? Será que até nisso temos que ser infiéis à nossa lei maior? É claro que um padre, ou um bispo, ou o que seja, tem, como cidadão, direito de expressar sua opinião sobre essas ou quaisquer outras questões... Mas a igreja? A CNBB? A CNB da PQP? Não dá, né? Como costuma dizer uma grande amiga minha, "me poupe"!

Gugu Keller

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Minhas músicas - "Iceberg"

Sendo, como já disse aqui, um aficionado por imagens paradoxais, fiz, com esta canção, uma espécie de colagem delas. Começando com "ao menos por hoje eu te amo para sempre", uma compreensão tardia que, acredito, tive acerca da intensidade de nossas paixões de adolescência, com que, ao mesmo tempo, procurei referir-me, ainda que indiretamente, às tais "mentiras sinceras" de Cazuza, tentei propor a tese, não menos paradoxal, de que uma mesma coisa pode afinal ser verdadeira e mentirosa conforme o referencial. Costurei então a idéia a uma imagem com que demais me identifico ao analisar a essência humana, o iceberg. Sim, muito por timidez mas muito mais por conta de nossa viciosa e doentia hipocrisia, eis nos icebergs exatamente o que somos. Eis neles como se mostram os nossos sentimentos. Eis nos icebergs. Eis-nos icebergs. Ou será que não?

ICEBERG

Ao menos por hoje eu te amo para sempre
E sempre o dia será o de hoje
Lá longe eu me sinto aqui ao teu lado
E peço-te tudo ficando calado
Eu te amo e isso é apenas a ponta de um iceberg
Que derrete perdido nos mares do sul
Quase nunca eu às vezes jamais tentaria ficar de pé
Flutuando na água azul

Às vezes a dúvida é uma certeza
E a exceção, a única regra
Decerto eu para sempre te amo agora
E sempre o agora ao tempo se entrega
Eu te amo e isso é apenas vapor de um caldeirão
Que vai nuvem virar para mais tarde chover
Nestas minhas palavras só a barbatana do tubarão
A maior parte eu não sei dizer

Paradoxo do tempo para amar
Pára-raios à luz do sol
A camada de ozônio e a calota polar
Corações que disparam
Uma bomba-relógio em nós
E o momento que vai ficar

O amanhã vem chegando e torna-se hoje
E logo, já ontem, se vai no passado
Se ao norte eis a morte o mote eterno
Eu durmo meu sono e sonho acordado
Eu te amo e isso é apenas a ponta de um iceberg
Que derrete nas ondas do teu calor
Se a canção cá acaba, eu sigo a em silêncio cantar com fé
O por ti meu tão grande amor

Gugu Keller

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A Solução para o Brasil!!!

Amigooooooooosss!!!!!
Modéstia a parte, ontem, assistindo no telejornal as notícias sobre mais um dia de enchentes e mortes país afora, tive, repentinamente, uma grande, mas uma grande idéia mesmo!!! Meus amigos, achei a solução para o Brasil!!!
É o seguinte...
Como sabem os amigos, e aqui decerto o têm observado, em sendo eu uma pessoa de formação acadêmica jurídica, estou sempre a fazer comentários acerca da clara e inequívoca vocação do nosso pretenso "estado democrático de direito", através das várias instituições que tão desastrosamente o representam, para fazer, contínua e sistematicamente, não obstante suportarmos a tal pretexto a mais alta carga tributária do planeta, exatamente o contrário do que lhes prescrevem a constituição e todas as demais leis que dela derivam, uma inexorável tendência a, sempre e em tudo, negar-nos, a nós, cidadãos, aquilo que, pelo tanto que pagamos, nos seria legal e minimamente devido em contra-partida...!
Pois bem...
Considerando-se, assim, esse inexplicável porém incessante modo de ser das autoridades públicas brasileiras, que sempre, e sempre assim o foi, vemos e sabemos, trabalham às avessas, na contramão do que a lei cogentemente lhes preceitua, como que tomadas por uma espécie de vício compulsivo pelo errado, creio, meus amigos, então, que a solução é simples... Basta que façamos, com urgência, uma nova constituição! Sim! Só que, ao contrário da atual, e das outras que a precederam, uma constituição que obrigue o nosso estado a fazer tudo o que nos é indesejado! Entendem o espírito da coisa? Criemos uma nova ordem legal dentro da qual, a despeito de tantos impostos e mais impostos, o estado brasileiro seja obrigado a nos negar acesso à cidadania a que tanto fazemos jus, que o force a jamais nos proporcionar coisas como um sistema de saúde pública eficiente, ou uma educação pública decente, ou um mínimo de estrutura em termos de segurança, ou de transportes, de saneamento, justiça, etc, um sistema jurídico, enfim, que compulsória e taxativamente preveja que o estado brasileiro, por mais que insaciavelmente arrecade, não nos devolva nada, não retribua com nada, não garanta nenhum direito aos seus cidadãos! Sim, isso mesmo! Que o estado brasileiro doravante, constitucionalmente, fique não apenas desobrigado de qualquer contrapartida àquilo que ele nos obriga, mas literalmente obrigado à sua total e completa negação! Mais ainda, que as nossas instituições sejam, a partir de então, obrigadas por leis severas a fazer com que todos os recursos por elas arrecadados sejam vampirizados, até o último centavo, por uma suja e gananciosa rede de corrupção dentro delas às claras infiltradas! Aí, sim, meus queridos amigos, estou convicto, com essa maravilhosa vocação de todas as nossas instituições, conforme acima citei, de agirem sempre ao contrário do que lhes é legalmente devido, apesar de, nem entendo bem por que, seus representantes insistirem em dizer que somos esse tal "estado democrático de direito", aí, sim, repito, meus amigos, estou muito, mas muito convicto, de que teremos, ao cabo de muito pouco tempo, uma nação de verdade para vivermos, uma nação onde nossos direitos, ainda que legalmente então não sejam mais direitos do ponto de vista formal, sejam, o que é mais importante, minimamente respeitados, trazendo-nos, afinal, alguma chance de dignidade...!
Para exemplificar, poderia essa nossa nova constituição, entre muitas outras coisas, dizer algo assim... "É vedada à união, aos estados e aos municípios toda e qualquer forma de investimento em saneamento básico, sendo de sua conjunta atribuição fomentar a proliferação de todas as doenças disso procedentes." Com um texto constitucional prevendo isso, amigos, sou capaz de apostar como teríamos saneamento básico de primeiro mundo, com a total erradicação de todas as doenças do contrário prevenientes!
Modéstia a parte, não é uma idéia genial? Venceremos o inimigo dando-lhe o seu próprio veneno! Viva o Brasil!

Gugu Keller

sábado, 2 de janeiro de 2010

Três Segundos

Eu já tinha conhecimento havia algum tempo, mas, de todo modo, este dado estatístico foi mundialmente veiculado através de uma campanha organizada por várias personalidades, há coisa de, creio, dois ou três anos, e, repetindo-o para quem ainda eventualmente não o tenha visto ou lido, o fato é que a cada três segundos uma pessoa morre em algum lugar do mundo em decorrência da fome! Sim, isso mesmo! Se você, que me lê agora, não sabia, desculpe-me por dizê-lo assim, mas é a verdade! Uma pessoa morta a cada três segundos em decorrência direta de inanição!
Pois bem... Já que estamos começando um novo ano, vamos fazer aqui uma conta... Acompanhem-me, por favor...
Se uma pessoa morre de fome a cada três segundos, e, se um minuto tem 60 segundos, serão então 20 por minuto, certo? Ok! Agora, se são 20 por minuto, e uma hora tem 60 minutos, temos então 1.200 mortes por hora, não é isso? Correto! Continuando, se um dia tem 24 horas, 24 x 1.200 vai dar 28.800! (Quem não for muito bom de conta, pode acompanhar com uma calculadora, tá?) E, então, a conta final... Um ano tem 365 dias, confere? Quer dizer, 365 multiplicado por 28.800 mortes, serão 10.512.000 mortos de fome! Não é uma beleza? Estatisticamente, tendemos a ter, em 2.010, 10.512.000 pessoas perdendo a vida para a fome!
Então, meus amigos, eu proponho que, principalmente quando virmos nos noticiários os números sobre os gastos das grandes potências mundiais em material bélico, sempre nos lembremos desses números, ok? E tenhamos todos um feliz 2010! Afinal, quem sabe, com um pouco de sorte, essa estatística não tem um viés de baixa e possamos fechar em apenas dez milhões de mortos de fome, não é mesmo? Não custa pensar positivo! Aliás, tem até um lado bom, que é o fato de 2010 não é um ano bissexto, ou seja, só o fato de não ter o 29 de fevereiro já nos poupará 28.800 mortes! Do contrário, a estatística já tenderia para 10.540.800! Fantástico, não? Mas, olhem, que ninguém venha falar em coisas como controle da natalidade, hein? A santa igreja já deixou claro que isso é pecado!

Gugu Keller

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Ano Novo, Vida Velha

É impressionante, não sei se os amigos concordam, esta vocação que o Brasil tão tristemente parece ter para, logo nos primeiros dias, ou mesmo nas primeiras horas, de todo novo ano que se inicia, deparar-se com terríveis tragédias, como a que ocorreu hoje no estado do Rio de Janeiro e que vimos noticiada assim que ligamos nossas tvs e pcs nesta manhã, que vêm meio que para nos lembrar sempre de que tudo afinal continua igual! Bom... E o que dizer? Será que ainda vale a pena lembrar que mudanças reais só dependem de nós? Não, acho que já não faz mais sentido... Já estamos todos tão cansados de saber, não é mesmo? Só dependem de nós mas teríamos que estar unidos, e isso clara e obviamente nunca vai acontecer...! Enfim...
Apenas, ainda, e para quem também gosta, quero registrar que os acontecimentos deste dia 1º me fizeram lembrar de dois clássicos do rock... Do rock nacional, pensei em "Angra dos Reis", do Legião Urbana, e, do que vem de fora, pensei nos versos de "New Years Day", do U2... "Nothing changes on new year´s day...!"

Gugu Keller