sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Minhas músicas - "O Sétimo Selo"

Como para muita gente, foi para mim uma experiência devastadora assistir "O Sétimo Selo", de Ingmar Bergman, famoso clássico em que o personagem principal joga xadrez contra a morte. Refletindo a respeito, veio-me a seguir a insuportável idéia de que contra ela, a morte, seja xadrez ou qualquer outro o jogo, a derrota é certa, inevitável. É meio como se a morte jogasse sem rei... Será, pensei então, adiá-la ao máximo uma vitória? Ou, já que, quando o jogo é longo, chegamos ao final exaustos e ainda assim sempre perdemos, justamente o contrário? Seria, talvez, derrubarmos logo o nosso rei uma forma, a única, de, de algum modo, passar-lhe a perna?
Logo após, impressionado ainda e sempre, compus esta canção a que dei o mesmo nome. Ficou muito para mim a idéia de um "bem-vindo atalho para onde eu nem queria ir", por estranho que isso soe...

O SÉTIMO SELO

A vida é um grande vazio
Um nada do nada ao nada
É vácuo, rotina e frio
Deserto de madrugada
A morte é um dia de sol
À sombra do viaduto
O sexo, isca e anzol
À lua reluz o luto

A vida é um estranho lugar
Líqüido labirinto
É selva, cilada e mar
O estômago do faminto
A morte, piscina de cal
A rima seguiu seu rumo
Lágrima, água e sal
Berço, caminho e túmulo

Por isso eu peço a deus, que eu nem creio que exista
Ateu, peço a deus só uma pista
Cadê? Qual a melhor rota de fuga?
Só peço a deus saúde e morte súbita

Um beijo é a bomba no chão
A vida a um alto custo
Um tiro no peito é perdão
E a morte, o preço justo
O amor é a beira do caos
É dor, calor e desastre
O sexo, Joelma e Andraus
Ereção e umidade

A vida é a conta da lápide
Subtração exata
O tempo é o elo de engate
E a morte, uma grande sacada
O sexo é um doce veneno
O amor, conversa fiada
Um grito responde ao silêncio
A vida é um tapa na cara

Por isso eu peço a deus, que eu nem creio que me escute
Ateu, sem ter nada que me mude
Quem sou? Aonde vou nesta carona?
Livrai-me, deus, desta vida morte agônica

GUGU KELLER

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